O presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB), fez questão de encerrar qualquer ilusão de que a Casa poderia aprovar na marra uma anistia ampla aos envolvidos nos atos golpistas do 8 de janeiro, incluindo aí o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Em entrevista à Veja, ele foi taxativo ao afirmar que não há clima para a medida, usando como argumento central a gravidade dos crimes investigados.
“O que eu sinto, do contato que tenho com os parlamentares, é que há uma certa dificuldade com anistia ampla, geral e irrestrita. Até porque nós tivemos o planejamento de morte de pessoas, isso é muito grave. Não sei se há ambiente para anistiar quem agiu dessa forma, penso que não”, declarou Motta nesta segunda-feira (11).
A posição marca uma guinada no comportamento do parlamentar, que até poucos dias foi visto como um “banana” ao ser enxotado da própria casa legislativa que preside. No chamado Motim da Câmara, bolsonaristas impediram que ele se sentasse na cadeira da presidência, colocaram o pé para bloquear sua subida à mesa diretora e parlamentares armados chegaram a circular no ambiente para intimidá-lo. De humilhado, Motta passou a ser o articulador de um contra-ataque que desidrata as pautas da extrema direita.
Debate não está descartado, mas apoio derreteu.
Apesar da postura firme contra a anistia, Motta fez o habitual jogo duplo de caciques do Centrão e disse que o assunto ainda pode ser discutido internamente:
“A anistia deve ser amplamente debatida”, disse, destacando que tanto o conteúdo quanto a possibilidade de votação no plenário precisam passar pelo crivo do colégio de líderes.
Ele também relembrou que, para pautar o tema, é necessário conquistar maioria nesse colegiado, o mesmo que define a agenda semanal de votações. Hoje há acordo entre PL e setores do centrão para levar a proposta ao plenário, mas a resistência do PT e de outros partidos inviabiliza o avanço imediato.
“Quando tiver uma maioria construída, jamais essa presidência irá obstruir as pautas de votação”, garantiu. “O colégio de líderes é o foro adequado, sempre procuramos trazer a pauta de consenso, como sempre foi no colégio e seguirá sendo”, completou, afirmando não ter “preconceito com nenhuma pauta”.
Motim enfraqueceu a oposição
Segundo Motta, a invasão das mesas diretoras da Câmara e do Senado por bolsonaristas, ocorrida na semana anterior, teve efeito oposto ao pretendido pela oposição:
“A larga maioria, mais de 400 parlamentares, não concordam com esse formato de obstrução”, afirmou, apontando que o episódio reduziu drasticamente o apoio às propostas defendidas pelo grupo.
Com essa mudança de cenário, a expectativa de uma anistia ampla para Bolsonaro e seus aliados golpistas perde força e, ao que tudo indica, chega ao fim na gestão de Hugo Motta.
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