Entre os aspectos considerados positivos, a reforma prevê a transformação digital dos atos administrativos, com digitalização obrigatória, rastreabilidade das decisões públicas e criação de uma identidade funcional única. Medidas que, segundo especialistas, podem aumentar a transparência, reduzir a burocracia e fortalecer os mecanismos de auditoria e controle social.
Outro ponto destacado é a padronização dos concursos públicos em âmbito nacional, o que pode reduzir assimetrias regionais e favorecer a profissionalização do quadro funcional, além de criar economias de escala.
O professor de Direito Constitucional do UniFavip Wyden, Brenno Ribas, avalia que esses pontos são avanços significativos. “A digitalização e a padronização dos concursos representam passos importantes para modernizar a administração pública, trazendo maior eficiência e aproximando o Brasil das melhores práticas internacionais de governança”, explicou.
No campo remuneratório, a proposta é a criação de uma tabela salarial unificada, com transição gradual. A medida busca corrigir distorções históricas entre poderes e entes federativos. Além disso, está prevista a avaliação de desempenho vinculada a metas e bônus, que poderia aproximar a lógica do serviço público de modelos gerenciais do setor privado.
Apesar dos potenciais benefícios, a reforma traz desafios e pontos de atenção. Um deles é a possibilidade de desequilíbrio fiscal com a unificação remuneratória, caso não haja equalização adequada entre União, estados e municípios. Outro risco é a avaliação de desempenho sem indicadores claros e independentes, o que poderia abrir espaço para manipulações políticas.
“Se não houver salvaguardas bem definidas, a avaliação de desempenho pode se tornar um instrumento de insegurança funcional e de perseguição política, comprometendo princípios constitucionais como a legalidade, a impessoalidade e a moralidade”, alertou o também advogado Brenno Ribas.
Talvez o ponto mais sensível seja a discussão sobre a estabilidade no serviço público. Embora o relator tenha garantido que direitos adquiridos serão preservados, fala-se em limitar a estabilidade apenas a carreiras típicas de Estado ou ampliar vínculos temporários. Especialistas consideram que essa mudança pode enfraquecer a autonomia técnica do serviço público e abrir margem para práticas de apadrinhamento.
Outro desafio prático é a implementação da digitalização, unificação de concursos e gestão por metas, que dependerá de investimentos contínuos em tecnologia, segurança da informação e capacitação. Sem esse suporte, a reforma corre o risco de ser ambiciosa no papel, mas frágil na execução.
Para o professor Brenno Ribas, o debate deve ser conduzido com cautela e compromisso republicano. “O Brasil precisa modernizar a máquina pública, mas isso não pode significar fragilizar instituições ou precarizar carreiras. O equilíbrio entre inovação e garantias constitucionais é o que vai definir se essa reforma será um avanço histórico ou uma fonte de instabilidade”, concluiu.
"Quando a primeira versão dessa proposta foi apresentada, pelo então ministro Paulo Guedes, a pressão da sociedade civil organizada fez com que não fosse aprovada. Agora, precisamos ficar muito atentos para que os novos concursos mantenham a estabilidade e para que os servidores não tenham critérios punitivos no exercício da função pública. Vamos acompanhar de perto", comentou o professor Luiz Rezende, coordenador acadêmico do concursos.

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