“Eu não aceito que o Trump venha meter o bedelho num caso que é interno nosso. Há uma injustiça sendo praticada contra o presidente Bolsonaro? Há uma injustiça sendo praticada, mas compete a nós, brasileiros, resolvermos isso”, afirmou Mourão.
A fala de Mourão ocorre em meio à crise gerada pela sobretaxa de 50% imposta por Trump sobre produtos brasileiros. A medida, que entra em vigor em agosto, foi anunciada com menções diretas à situação jurídica de Bolsonaro, investigado por tentativa de golpe de Estado.
A sobretaxa foi interpretada por analistas e políticos como uma resposta ao lobby promovido nos EUA pelo deputado federal licenciado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), que se mudou para o país com o objetivo de pressionar o governo americano a se posicionar contra o Supremo Tribunal Federal (STF), que conduz a investigação contra seu pai e aliados.
Isolamento político se aprofunda
A declaração de Mourão, antigo aliado de Bolsonaro, aprofunda o isolamento político do ex-presidente e de seus filhos, Eduardo e Flávio. Governadores de direita que inicialmente exaltaram Trump e criticaram o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) começaram a recuar, diante do impacto econômico da medida sobre o setor exportador brasileiro, especialmente o agronegócio.
Ao comentar o impacto da decisão americana, Mourão também criticou a postura protecionista de Trump, afirmando que ela prejudica não apenas o Brasil, mas também os próprios Estados Unidos:
“Trump abandonou o soft power e passou a usar o poder bruto da coerção e do dinheiro. A taxação vai prejudicar também os americanos.”
Trump faz apelo político e cita Bolsonaro
Na carta em que anunciou a sobretaxa, Trump mencionou diretamente Jair Bolsonaro, dizendo que o ex-presidente brasileiro está sendo perseguido injustamente.
“Tenho assistido, assim como o mundo, enquanto eles [o STF] não fazem nada além de persegui-lo, dia após dia. Ele não é culpado de nada, exceto por lutar pelo povo”, escreveu Trump na plataforma Truth Social.
Para os aliados de Bolsonaro, a medida de Trump é uma tentativa de apoio simbólico ao ex-presidente brasileiro em meio ao cerco jurídico cada vez maior. Nesta segunda-feira (14), a Procuradoria-Geral da República (PGR) apresentou as alegações finais no inquérito sobre a trama golpista, pedindo a condenação de Bolsonaro e de outros sete réus do núcleo central da investigação.
Mourão também se manifestou nas redes sociais, classificando a posição da PGR como "esperada" e parte de um processo que, segundo ele, “tem como única finalidade tirar o ex-presidente do contexto político nacional”.
“Esse processo é claramente político”, escreveu o senador.
A tensão envolvendo as relações comerciais e políticas entre Brasil e EUA, somada ao desgaste interno do bolsonarismo, mostra o aumento da pressão sobre os aliados do ex-presidente, que agora enfrentam críticas não apenas da oposição, mas também de setores da direita que até pouco tempo os apoiavam.
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