Em algumas cidades e distritos o furto cresceu tanto que a área urbana entrou em colapso depois que empresa comemorou fornecimento regular.
No começo do ano passado, durante uma fiscalização de rotina da Adutora Salgueirão (Salgueiro), o técnico da Companhia Pernambucana de Saneamento desconfiou de um mandacaru que “nasceu” envolto na tubulação aérea da adutora. Ele decidiu averiguar algo inusitado naquela região e ao cortar o mandacaru identificou que que a planta estava envolvendo a tubulação para disfarçar uma ligação clandestina de água.
Nos últimos dois anos desde que a Compesa começou a ampliar a oferta d’água para pequenos municípios e distritos com a ligação de adutoras a companhia vem se deparando com um crescimento de furto de água através de ligações clandestinas que não raro reduzem tanto a pressão que a comunidade para onde vai a água entra em colapso.
O furto de água nas cidades e distritos no Agreste e no Sertão virou um problema tão recorrente que a Compesa precisou criar uma Coordenação de Segurança Patrimonial para cuidar do patrimônio e articular operações policiais para o combater furtos (na linguagem popular chamados de jacaré) e participar do planejamento de novas operações, juntamente com a Secretaria de Defesa Social e as polícias Civil e Militar, uma espécie de “Patrulha Caça Jacaré”.
O problema desse furto que vira caso de Polícia é que as pessoas envolvidas no caso acabam danificando as descargas (equipamento que controla a passagem da água para a rede de distribuição) para instalação de bombas para desviar água para abastecer até carros-pipa com capacidade de pelo menos 8 mil litros d’água. Desde 2023 a empresa coleciona ligações para desvio de água em empresas como um criatório de peixe, moteis, hoteis e até num parque aquático.
A ação da “Patrulha Caça Jacaré” já resultou na melhoria da distribuição de água para a população no interior porque essencialmente os furtos de água causam grandes transtornos para os moradores, que ficam desabastecidos ou sofrem com a baixa pressão nas redes. Mas existe o prejuízo financeiro da Compesa que precisa destinar recursos, pessoal e atenção para um crime que não existia no passado até porque não havia o fornecimento.
Em 2023, em Jataúba ao identificar 32 ligações clandestinas na adutora do sistema de abastecimento de Santa Cruz do Capibaribe, a Compesa recuperou de 58 litros de água por segundo (duplicou a vazão do sistema), o que beneficiou 100 mil pessoas das cidades de Santa Cruz do Capibaribe, Jataúba e os distritos de Pão de açúcar (Taquaritinga do Norte) e São Domingos (Brejo da Madre de Deus).
Cidade sem água
Foram detectadas mais de 60 ligações irregulares que estavam conectadas em 16 sangrias ilegais às margens da PE-160 que desviavam 11 litros de água por segundo para a cidade, que estava em colapso devido às irregularidades. A rede possui uma extensão de 20 quilômetros e a Compesa vinha enfrentando dificuldades para abastecer o município em consequência das ligações clandestinas.
Ano passado, numa ação em outubro em Bodocó, uma operação conseguiu ampliar a vazão do sistema de abastecimento de 70 l/s (litros por segundo) para 95 l/s. No mesmo mês em Exu, uma operação que ampliou de 10 para 18 l/sa vazão de água do sistema que abastece a cidade.
Parque aquático
No município de Ipubi, foram realizadas duas operações. Na primeira delas a cidade entrou em colapso depois que foram desviados 20 l/s. Na segunda intervenção, a vazão do município passou de 10 para 26 l/s.
Em Santa Filomena, outra cidade que estava em colapso, a empresa conseguiu recuperar 5 l/s eliminando os furtos. Em Serra Talhada numa fiscalização e foi possível ampliar a vazão do sistema da cidade de 28 para 45 l/s. Em dezembro, a cidade de Águas Belas, que entrou em colapso de abastecimento, passou a contar com 17 l/s após a realização de uma operação de fiscalização.
Se numa situação climática normal que permite o abastecimento de reservatórios esse problema já seria grave, a repercussão se amplifica com o fato de que Pernambuco está vivendo uma crise hídrica.
Racionamento
A escassez de chuvas provocou a redução dos níveis das barragens e a Compesa precisou voltar a implantar calendários de distribuição emergenciais para continuar atendendo à população pela rede de distribuição até o próximo inverno. Até porque as altas temperaturas aumentam o consumo, exigem contingenciamento hídrico e prejudicam distritos e cidades inteiras.
A questão do roubo de água é recorrente na Região Metropolitana do Recife e na própria capital, onde a empresa normalmente identifica jacaré, especialmente em pequenas empresas que demandam muita água nas suas atividades além de consumidores residenciais.
Índice de perdas
O problema é que esse furto acaba interferindo no índice geral de perdas que de forma simplificada quer dizer a diferença entre o que a empresa põe de água tratada na rede de distribuição e o que ela consegue faturar de consumo medido. E se soma às perdas técnicas e estruturais decorrente da condição das tubulações.
E, no final, é um dos focos do projeto de concessão que está em curso pela empresa que deseja repassar a distribuição e, portanto, cobrança da água ao consumidor para se concentrar na produção de água tratada a ser entregue a uma nova gestora da distribuidora.
Futura concessão
Na semana passada a Secretaria de Recursos Hídricos iniciou a série de cinco audiência públicas para ouvir sugestões para o projeto de concessão da distribuição com encontros nas cidades de Caruaru, Petrolina, Salgueiro e Serra Talhada além do Recife que iniciou a rodadas na última quarta-feira (15) seguida de Caruaru, na quinta (16).
A ação é parte do programa Águas de Pernambuco que prevê um investimento de R$ 6,1 bilhões, com ações de abastecimento, saneamento e esgotamento sanitário em todas as regiões do Estado.
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