Um tratamento inovador contra o câncer de próstata utiliza um recurso da natureza - a porfirina, "prima" da clorofila, de uma bactéria marinha - para matar o tumor. Com ação dirigida ao câncer, ainda evita efeitos colaterais severos, como a incontinência urinária e a impotência sexual.
Chamada de Terapia Fotodinâmica Vascular Dirigida (VTP), foi desenvolvida pelo pesquisador Avigdor Scherz, professor do Departamento de Botânica e Ciências Ambientais do Instituto Weizmann de Ciências, em Israel, junto ao professor Yoram Salomon, falecido em 2017.
Em visita ao Brasil, Scherz ministrou palestra na Congregação Israelita Paulista, em São Paulo, nesta segunda-feira (25) e conversou com o R7. Ele explicou que o aspecto mais inovador desse tratamento é a utilização de recursos da natureza para destruir o câncer.
"Utilizamos um composto que é retirado de bactérias fotossintéticas e sofre algumas modificações químicas. Ao ser iluminado no órgão doente por meio de fibras óticas finas conectadas a um laser, ele libera radicais livres que são usados na natureza para destruir órgãos inteiros que se tornam tóxicos. Assim, a técnica é a primeira, no meu entendimento, a utilizar os recursos da natureza para destruir o câncer", afirmou.
Outro diferencial do tratamento é que é dirigido ao tumor, não lesando o esfíncter urinário nem os nervos relacionados à ereção.
"As taxas de incontinência e de impotência sexual são drasticamente menores nesse tratamento. Isso ocorre devido às características únicas da técnica, na qual a biologia da próstata e a biologia do tumor mantêm o efeito confinado à próstata sem chegar ao ureter e aos feixes do nervo", explicou.
Taxa de cura é de 80%
O composto a que Scherz se refere é o Tookad. O medicamento é feito a partir de bactérias marinhas que vivem na escuridão, em grandes profundidades do oceano. Elas fornecem porfirinas, da família da clorofila, que, ao serem ativadas pela luz, obstruem a microcirculação sanguínea das células tumorais, levando-as à morte.
No tratamento, o paciente recebe essa substância via endovenosa. Em seguida, fibras óticas são introduzidas na próstata, que fica localizada no períneo, entre o ânus e os testículos. O luz do laser, emitido por meio das fibras óticas, ativa o medicamento, que já está na corrente sanguínea.
O procedimemento dura em torno de 90 minutos. De acordo com o urologista Paulo Palma, professor-titular de Urologia da Unicamp, que integra a equipe dos testes clínicos com o Tookad no Brasil, uma aplicação costuma ser suficiente para combater o tumor.
"A cura é alcançada com uma única aplicação em 80% dos casos. Nos 20% onde a doença persiste, é possível fazer uma segunda aplicação com a mesma taxa de sucesso, ou seja, 80%", explica.
O tratamento tem indicação para câncer de próstata em estágio inicial.
Técnica poderá se estender a câncer de pâncreas
Palma explica que o tratamento tem a intenção da cura definitiva, assim como a "cirurgia radical". "Contudo o seguimento é necessário devido ao risco de recorrência, pois esses tumores podem ser multicêntricos", diz.
De acordo com o médico, a terapia não funciona em metástases porque existe a necessidade de colocar a fibra ótica dentro do tumor, o que não é possível com micrometástases.
Existem pesquisas em andamento nos Estados Unidos para o uso da técnica contra o câncer de pâncreas, rins e ossos. De acordo com Palma, os testes iniciais são promissores. "Esse tratamento não funciona somente contra o câncer da próstata. É que o tratamento para o câncer de próstata foi o primero a ser aprovado", explica.
Segundo Scherz, a destruição do tumor por meio do tratamento inicia uma forte imunidade antitumoral. "Essa resposta pode ser melhorada pela combinação com outros tratamentos e, assim, fornecer ferramentas para o tratamento de doenças sistêmicas. Essa combinação é agora testada para vários tipos de câncer em estudos pré-clínicos e clínicos", afirma.
Os ensaios clínicos da técnica começaram em 2009 e cerca de 700 pacientes se submeteram ao tratamento, informa Scherz. A técnica já foi aprovada em 27 países da comunidade europeia, além do México e de Israel. "O tratamento foi submetido recentemente à aprovação no Brasil", afirma.
Palma afirma que a previsão é que a técnica esteja disponível no país até 2020.
Na Europa, o tratamento custa em média 30 mil euros (R$ 120 em média). “Não é muito caro se pensar que só será feito uma vez. Não precisará repetir”.
BLOG DO FRANÇA.
Fonte: R7.
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Fonte: R7.
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