“O cinquentenário da Embrapa Semiárido marca o
papel da instituição no apoio à inovação e ao desenvolvimento científico e tecnológico da região.
Chegar a essa marca sendo uma instituição referência para o Semiárido é uma oportunidade de reflexão e
reconhecimento da jornada percorrida, das conquistas alcançadas, dos desafios
superados, e também de olhar para o futuro”, destaca a chefe-geral interina da
Embrapa Semiárido, Lúcia
Helena Piedade Kiill.
A instituição
viabilizou soluções tecnológicas
fundamentais para a agropecuária regional, contribuindo para o aumento da
produtividade e a melhoria da qualidade de vida dos agricultores do Semiárido,
tornando a região um dos mais importantes polos produtores e exportadores do país.
Essa trajetória de sucesso, no entanto, não foi construída sem desafios.
Nos anos 1970, o
interior do Nordeste sofria com escassez de água, abastecimento precário e uma
agropecuária de baixa produtividade, impactada pela irregularidade das chuvas.
Foi nesse contexto que o então Centro de Pesquisa Agropecuária do Trópico Semiárido (CPATSA), hoje Embrapa Semiárido,
iniciou um processo de transformação tecnológica, investindo em pesquisas para
viabilizar a produção mesmo sob condições climáticas adversas.
Ao longo desses 50
anos, a instituição foi decisiva para consolidar uma nova abordagem para o Semiárido:
em vez de combater a seca, passou a promover estratégias de convivência e
adaptação à realidade climática local. O avanço tecnológico impulsionou a produção com o
desenvolvimento de cultivares adaptadas ao calor do sertão, técnicas de manejo para fortalecer a
fruticultura e a pecuária, sistemas de captação e armazenamento de água, além
de iniciativas para conservação dos recursos naturais e inclusão socioprodutiva
das comunidades rurais.
Atualmente, as
pesquisas da Unidade estão estruturadas em três grandes eixos: Recursos
Naturais, Agricultura Irrigada e Agropecuária Dependente de Chuva. Esse modelo
tem impulsionado avanços significativos na adaptação de culturas agrícolas, no
uso eficiente da água e na valorização do Bioma Caatinga.
De acordo com o chefe adjunto de Pesquisa e Desenvolvimento,
Carlos Gava, a
Embrapa Semiárido tem um histórico consistente de entrega de resultados de
pesquisa com soluções para as limitações impostas pelas condições do Semiárido à produção agrícola. “Hoje,
a Unidade debruça-se sobre o desenvolvimento de pesquisa que permitam aumentar
a competitividade agrícola da região,
se preocupando com a sua sustentabilidade ambiental, econômica e social, em um
cenário desafiante do ponto de vista de clima e solo.”, ressalta.
Nesse cenário, segundo Gava, as ações de pesquisa se dedicam, por um
lado,
a promover a inclusão socioprodutiva no Semiárido e, por outro, aumentar a
competitividade de todo o setor agropecuário regional, com iniciativas
que vão desde os estudos para exploração sustentável da
Caatinga até aquelas
envolvendo as técnicas
mais modernas utilizadas no país, como a edição gênica de bioinsumos - aumentando sua
eficiência quando aplicados na agricultura - e o uso da técnica de RNA interferente para o
controle de insetos praga.
Legado de Pesquisa
A fruticultura
irrigada do Vale do São Francisco é hoje uma potência nacional, responsável por
91% das exportações de manga e 98% das de uva do país. Mas essa trajetória de
sucesso não teria sido possível sem a contribuição da Embrapa Semiárido. Foi a
pesquisa da instituição que deu o impulso decisivo para o setor, com o
desenvolvimento de tecnologias como o uso de reguladores vegetais para induzir
a floração em qualquer época do ano. A técnica permitiu aos produtores de manga
planejar colheitas estratégicas e maximizar lucros. A isso se somaram inovações
no manejo da copa, na nutrição das plantas, na irrigação e na pós-colheita,
consolidando o Vale como líder na exportação de frutas tropicais.
A Unidade teve
ainda papel decisivo na adaptação de cultivares de uva ao clima do Semiárido e
na implementação do programa de Produção Integrada (PI) para manga, uva e melão. Mais recentemente, lançou
a BRS Tainá, uma variedade de uva de mesa branca sem sementes, e o
porta-enxerto BRS Guaraçá, primeira cultivar resistente ao
nematoide-das-galhas, principal ameaça à produção de goiaba no Brasil. Com esse
porta-enxerto, tornou-se possível retomar a cultura da goiabeira em áreas antes
inviabilizadas pela praga.
Outra conquista foi
a viabilização do cultivo de frutas de clima temperado, como pera e caqui, no
sertão nordestino. A Embrapa Semiárido também se destaca no desenvolvimento e
recomendação de práticas agropecuárias, incluindo métodos para multiplicação de
parasitóides exóticos
no controle biológico da mosca-das-frutas, além do manejo integrado de pragas
do melão e de podridões na manga.
Na pecuária, a
pesquisa tem sido fundamental para a adaptação de sistemas produtivos ao Semiárido.
A adoção de sistemas sustentáveis, como a integração Lavoura-Pecuária-Floresta
(iLPF), e o uso de forrageiras nativas e exóticas têm fortalecido a resiliência
dos rebanhos. Como resultados, a produtividade da caprinovinocultura e da
bovinocultura leiteira cresceu acima da média da pecuária extensiva
tradicional.
Inovação para a convivência com o Semiárido
Além da produção
animal e vegetal, a Embrapa Semiárido desempenha um papel estratégico na gestão
da água em pequenas propriedades, desenvolvendo e aprimorando tecnologias como
cisternas, barreiros, barragens subterrâneas e sistemas integrados de produção
com reuso de águas cinza. As pesquisas da instituição têm servido de base para
políticas públicas e programas como o P1+2, que viabiliza o armazenamento de água
em cisternas para abastecimento familiar, e o Programa Água Doce, que
implementa dessalinizadores e promove o reaproveitamento sustentável dos
rejeitos na produção agropecuária.
A Unidade também
desenvolveu cultivares adaptadas às condições
do Semiárido, como a cebola BRS Alfa São Francisco, o feijão-caupi tolerante à seca, clones de
umbuzeiro e a primeira variedade de maracujá-da-caatinga, a BRS Sertão Forte.
Por meio de seus
Bancos Ativos de Germoplasma (BAGs) e coleções, a Embrapa Semiárido tem
contribuído para a conservação da variabilidade genética de plantas essenciais à
agricultura e à sustentabilidade da região, incluindo cucurbitáceas,
forrageiras, manga, maracujá-do-mato, palma forrageira, acerola, araçá e videira. Além disso, mantém o Núcleo de Conservação
do Gado Sindi, contribuindo para a valorização e a adaptação da pecuária ao
clima semiárido.
A Unidade possui
ainda uma rede de estações agrometeorológicas
automatizadas, que fornecem dados em tempo real para auxiliar os agricultores
locais na tomada de decisões mais precisas sobre o manejo da irrigação,
reduzindo desperdícios e otimizando o uso da água.
Como explica o chefe adjunto de Transferência de Tecnologia da Embrapa Semiárido, todas essas tecnologias geradas pela Empresa chegam aos produtores por meio de parcerias com órgãos governamentais, não governamentais, empresas, associações e cooperativas de produtores, que viabilizam diversas ações , como demonstrações de campo, realização e participação em feiras e eventos agrícolas, com destaque para o Semiárido Show. Também são realizados cursos presenciais e virtuais, visitas técnicas e publicações técnico científicas. Para Paes, “essas ações contribuem para a geração de impactos no aumento da produtividade, na redução de custos, melhorias na qualidade dos produtos, aumento da sustentabilidade e na melhoria da gestão das propriedades rurais”.
Compromisso com o
Bioma Caatinga
A Caatinga, único bioma exclusivamente brasileiro,
é outro objeto de pesquisa da Embrapa Semiárido. A instituição atua na conservação
e no manejo sustentável dos recursos naturais, promovendo o uso racional da
biodiversidade local. Espécies nativas são estudadas para diversas finalidades,
desde a alimentação animal até aplicações medicinais, enquanto programas de
recuperação de áreas degradadas buscam mitigar os impactos da exploração
agropecuária.
A prospecção de microrganismos da Caatinga com potencial
para a aplicação na agricultura é outra linha de atuação que tem se mostrado
promissora, abrindo novas possibilidades para a sustentabilidade no campo.
Para fortalecer a
agricultura familiar, a Embrapa Semiárido realiza eventos como o Semiárido
Show, que a cada dois anos, apresenta a um grande público um portfólio de mais
de 100 tecnologias voltadas ao desenvolvimento sustentável da região. A Feira
se tornou um espaço essencial para o intercâmbio de conhecimentos entre
pesquisadores, produtores e gestores públicos.
Rumo ao futuro
Ao longo dessas
cinco décadas, a Embrapa Semiárido não apenas desenvolveu tecnologias, mas
transformou a realidade de muitos agricultores do sertão. Com um olhar voltado
para o futuro, a Unidade segue inovando, atenta às mudanças climáticas e
fortalecendo parcerias estratégicas para garantir maior segurança alimentar e
impulsionar ainda mais a agropecuária regional.
”A capacidade de se reinventar e
responder a novos desafios torna a Embrapa Semiárido uma instituição resiliente e indispensável
para continuar contribuindo para o desenvolvimento regional”, destaca a chefe-geral interina
Lúcia
Kiill. Ela avalia
que os próximos
anos serão fundamentais para consolidar as ações da Unidade na geração de soluções tecnológicas visando o desenvolvimento
sustentável, continuando assim sua trajetória de excelência e inovação.
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