Veja" teve acesso ao livro “Tchau, Querida — O Diário do Impeachment” em que o ex-presidente da Câmara narra bastidores do processo que levou à saída de Dilma do cargo.
Eduardo Cunha, preso na operação Lava-Jato. Ele está em prisão domiciliar desde março por conta dos riscos do coronavírus Foto: Agência O Globo
RIO - Um dos pivôs do afastamento da presidente Dilma Rousseff (PT), o ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha lança, no próximo dia 17, o livro “Tchau, Querida — O Diário do Impeachment”. Cunha foi condenado a 14 anos e seis meses de prisão por corrupção passiva por crimes envolvendo a Petrobras. O ex-presidente da Câmara está preso preventivamente por lavagem de dinheiro e evasão de divisas por recebimento de propinas em contas mantidas na Suíça. Ele cumpre prisão domiciliar com uso de tornozeleira eletrônica por ser considerado grupo de risco da Covid-19.
Segundo matéria publicada pela revista “Veja”, Cunha detalha, por exemplo, uma reunião em que o ex-presidente Lula teria confessado o arrependimento por ter patrocinado a reeleição de Dilma e teria prometido a Cunha tentar interferir no Supremo Tribunal Federal (STF) para ajudá-lo. No livro, ainda de acordo com a revista, Cunha relata uma lista de propostas que, segundo ele, teriam sido feitas por ministros de Estado e pela própria presidente à época, na tentativa de barrar o impeachment. Cunha fala ainda de deputados que teriam pedido dinheiro para salvar seu mandato no Conselho de Ética, o que não aconteceu.
De acordo com os relatos da revista, um dos motivos que levaram o então presidente da Câmara a dar prosseguimento ao processo de impeachment de Dilma foi a falta de apoio do PT ao seu nome na disputa pelo comando da Câmara. Na época, o partido decidiu lançar o deputado Arlindo Chinaglia (PT-SP). A falta de apoio do PT se somou, segundo Cunha, ao avanço das investigações da Lava-Jato sobre ele, o que ficou considerado um complô liderado por Dilma, o então Ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, e o procurador-geral da República à época, Rodrigo Janot. Ainda segundo "Veja", Cunha diz que o então juizl Sergio Moro "era o seu próprio líder" e que ele "era e será candidato à Presidência da República".
Cinco anos depois do processo que levou à saída de Dilma do cargo, Cunha diz no livro, segundo a revista, que poderia ter evitado o andamento do processo e que o rompimento com o PT foi um erro que o obrigou a arcar com as consequências disso. Cunha ainda admite, segundo "Veja", que indicou um advogado de sua confiança para dar consultoria para o relator do processo de impeachmnet, deputado Jovair Arantes (PTB-GO).
Em outro trecho do livro, segundo a revista, o ex-presidente da Câmara afirma que o vice-presidente Michel Temer trabalhou arduamente pelo impeachment e negociou cargos no governo antes mesmo da saída de Dilma.
"Temer não só desejava o impeachment como lutou por ele de todas as maneiras — ao contrário do que ele quer ver divulgado sobre o assunto", escreveu Cunha, segundo a publicação. Ele acrescentou: "Jamais esse processo de impeachment teria sido aprovado sem que Temer negociasse cada espaço a ser dado a cada partido ou deputado que iria votar a favor da abertura dos trâmites."
Cunha diz, segundo "Veja", que, na busca por votos pela aprovação do impeachment, recebia as demandas dos deputados e levava a Temer, que decidia se aprovava ou não os pedidos. Um dos exemplos citados pelo ex-presidente da Câmara foi a nomeação de Marcos Pereira, do Republicanos, para o Ministério da Indústria e Comércio Exterior.
Segundo a revista, Cunha cita ainda a sua boa relação com o empresário Joesley Batista, um dos responsáveis pela investigação que levou à denúncia contra Temer após ele assumir a Presidência. O ex-presidente da Câmara diz ter recorrido a Joesley para que ele intercedesse junto a ministros do STF quando foi aberto o seu processo de cassação no Conselho de Ética da Câmara. De acordo com a revista, Cunha relata que o empresário era próximo do ministro Edson Fachin.
Segundo Cunha, o empresário foi responsável ainda por emprestar suas casas em Brasília e São Paulo para que ele se reunisse com o ex-ministro Jaques Wagner e Lula, que, segundo ele, buscavam soluções para barrar o impeachment de Dilma. De acordo com a revista, Wagner teria oferecido a Cunha a possibilidade de blindá-lo no Conselho de Ética e de nomear Temer como ministro da Justiça, caso o processo fosse interrompido.
No encontro com Lula, Cunha diz que o petista afirmou que havia cometido um erro ao indicar Dilma como candidata do PT à Presidência: “Então, o ex-presidente fez um desabafo surpreendente. Contendo o choro, Lula disse que o maior erro que ele havia cometido na vida foi ter permitido que Dilma se candidatasse à reeleição”.
Blog do França
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