O tom da reunião pegou de surpresa os comandantes. O encontro foi marcado por frases duras e tapas na mesa.
Nunca antes na história: os comandantes do Exército, Edson Pujol, da Marinha, Ilques Barbosa, e da Aeronáutica, Antonio Carlos Bermudez, foram sumariamente e simultaneamente demitidos por ordem do presidente Jair Bolsonaro. O trio decidira entregar os cargos em solidariedade ao general Fernando Azevedo e Silva, demitido na véspera do Ministério da Defesa por, supostamente, não dar o apoio militar que Bolsonaro desejava. Walter Braga Netto, o novo ministro, convocou-os para uma reunião na manhã de ontem. Parecia que era para tentar dissuadi-los. Mas já chegou com as ordens de demissão. (Folha)
O tom da reunião pegou de surpresa os comandantes. O encontro foi marcado por frases duras e tapas na mesa. Braga Netto disse que as mudanças eram para o “realinhamento” das Forças Armadas com Bolsonaro e a manutenção do apoio ao governo, o que irritou ainda mais os demitidos. O mais exaltado, segundo participantes, foi o almirante Ilques, considerado justamente o gentleman do trio. (Estadão)
Cresceu na ativa o desgaste de Braga Netto por ter aceitado o cargo. Por ser mais jovem com quatro estrelas, pula etapas e quebra a hierarquia. Os militares temem que incentive a exploração política das Forças Armadas. (Folha)
Para o ex-ministro e general da reserva Alberto Santos Cruz, não há “explicação plausível” para a substituição do comando militar. “Os comandantes das Forças estavam cumprindo com as funções deles, de acordo com a Legislação. Isso é um desrespeito, uma ofensa ao Exército, à Marinha, à Aeronáutica.” (Globo)
A substituição, especialmente de Pujol, não é tão simples. A praxe é que comandante seja escolhido entre os três generais de quatro estrelas há mais tempo na corporação. O favorito do Planalto para o Exército é o chefe militar do Nordeste, Marco Antônio Freire Gomes, o quinto mais antigo. (Folha)
A demissão sumária também repercutiu no meio político, especialmente na oposição. O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, por exemplo, lamentou a inquietação militar junto a uma crise econômica e à pandemia, enquanto o governador paulista João Doria se solidarizou com os demitidos. Já o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), botou água na fervura dizendo ter confiança na preservação do Estado Democrático de Direito. (G1)
Militares bolsonaristas estão tentando construir nas redes uma narrativa que joga a responsabilidade pela crise sobre o Centrão. Segundo eles, a mudança no Ministério foi provocada pela necessidade de acomodar um representante do grupo político, a deputada Flávia Arruda (PL-DF), na Secretaria de Governo. A demissão de Azevedo e Silva teria sido resultado dessa acomodação, apurou Juliana Dal Piva. (UOL)
Ainda por cima... Hoje faz 57 anos que um golpe civil-militar apeou do poder João Goulart, em 1964. A data, que voltou a ser celebrada no governo Bolsonaro, terá a leitura de uma Ordem do Dia escrita pelo novo ministro da Defesa, o general Walter Braga Netto. Mais moderada que a de anos anteriores, o texto procura contextualizar o golpe no clima da Guerra Fria e diz que ação buscou “pacificar o país” e “garantir as liberdades democráticas que hoje desfrutamos”, conta Tales Faria. (UOL)
Meio em vídeo. Não é simples dar um golpe de Estado em 2021 — em 1964 era mais fácil. Numa edição extra do Ponto de Partida, explicamos por que Jair Bolsonaro teria muita dificuldade. Assista. E, na edição desta semana do Conversas com o Meio, Ricardo Rangel, colunista da Veja, ajuda a compreender o impacto da reforma ministerial e os últimos movimentos no cenário político. Confira no YouTube.
Enquanto as atenções se dividiam entre a tensão militar e horror da pandemia, o líder do PSL na Câmara, Major Vitor Hugo (GO), tentou emplacar um projeto dando poderes especiais ao presidente da República. O parlamentar queria incluir “crises na saúde pública” entre as situações em que o Executivo poderia decretar “mobilização nacional”, prevista hoje para casos de invasão estrangeira. Oposicionistas classificaram a iniciativa como tentativa de golpe, e o projeto não entrou na pauta. (G1)
Carlos França, novo ministro das Relações Exteriores, vai mudar o discurso belicoso de Ernesto Araújo em relação à China e melhorar as relações bilaterais com os EUA, avaliam especialistas. Mas a ala ideológica, comandada pelo deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), não vai ficar ao relento. Para agradá-la, França deve manter a postura ultraconservadora em relação a questões de comportamento, como tratados sobre direitos reprodutivos. (Folha)
Míriam Leitão: “De um diplomata com aquele humor típico da Casa de Rio Branco falando do novo ministro: ‘O França é um sujeito tranquilo, discreto. Ele só não se interessa muito por esse negócio de política externa’.” (Twitter)
O mais cotado para substitui-lo é André Mendonça, que está trocando o Ministério da Justiça pela AGU, embora haja resistência de parte do Centrão a seu nome. (Globo)
Blog do França
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